segunda-feira, 14 de julho de 2008

Jornalista Cláudio Brito ZH dia 14/07/2008



Donos da lei, por Cláudio Brito*

Ninguém é dono da lei. Muitos pensam que são. Como se diz por aí, há os que "se acham". Agem como intocáveis senhores do poder, de todos os poderes. E levam de roldão tudo o que contrarie seus interesses. Demonstram profunda indignação quando são fustigados e vêem um estorvo nas ações de fiscalização e repressão das instituições públicas. Obstáculos que derrubam por bem ou por mal, na legalidade ou "numa boa", o que se traduz por cooptação, falta de escrúpulos, corrupção. Ou driblam a lei, ou há quem a interprete de forma que lhes seja favorável, quando não conseguem fazer a lei que lhes satisfaça e proteja.Esses senhores que podem tudo o que querem são, algumas vezes, apanhados e reagem com veemência ao que consideram uma violência.Expô-los na mídia?Nem pensar, isso é crime. Se fossem pequenos marginais, vá lá, tudo vale. Algemas? Que absurdo, uma desmoralização inominável.Se o preso é pobre, preto e anônimo, ganha logo uma alcunha e, algemado às costas, é contido com energia, derrubado e posto de bruços, para não oferecer perigo. Ninguém demonstra qualquer contrariedade e ainda se aplaude a resposta do Estado em favor da segurança dos cidadãos. Se isso der capa de jornal, muito bem, era mesmo o que deveria acontecer.Não se ouse fazer o mesmo com alguma cabeça coroada. Logo surgirão debates acadêmicos sobre excessos e vazamentos à imprensa, que estaria a serviço de uma espetacularização promovida por policiais. Não se lembram que o jornalismo investigativo tem seus próprios caminhos e por eles chega à informação que os poderosos imaginam privilegiada. Sem respeitar a proporcionalidade entre seus crimes e a alegada ação excessiva do Estado, dão mais importância aos deslizes de algum policial que possa ter adiantado aos repórteres os detalhes de uma operação, como se isso fosse um crime hediondo.A tudo que lhes seja incômodo consideram ofensa à honra - como se a tivessem - e repelem a contenção que, em nome da sociedade, o Ministério Público, as polícias e a Justiça tentam realizar.Talvez se demore ainda um bom tempo até que esses homens sem princípios se convençam de que serão donos de nada. Vai chegar a hora de valer o direito e, mais que ele, a justiça. E a cidadania será consagrada. E o povo não vai se curvar aos desmandos e nem mais suportará as falcatruas que, acima do patrimônio material, aniquilam nossos dotes morais. É que teremos aprendido que todo o poder emana do povo e em seu nome deve ser exercido. A lei é de todos nós, por nós e para todos nós.*Jornalista

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