sexta-feira, 11 de julho de 2008

Coluna do Jornalista David Coimbra ZH/11/07/2008


O problema do Brasil é o amor.
Já fiz várias visitas à Fase, a ex-Febem, para fazer palestras. Aqueles meninos todos lá internados, não sei o percentual exato, mas vou arriscar: 90% deles não têm bom relacionamento com o pai, ou simplesmente não têm relacionamento algum com ele, ou sequer o conhece. Vou arriscar de novo: se eles tivessem pai e mãe atentos, não necessariamente juntos, mas atentos e cuidadosos, se os tivessem, não estariam na Fase.
Eles estão na Fase porque, lentamente, ou talvez nem tanto, a família se deteriorou no Brasil. Uma família deteriorada significa filhos que não recebem amor, e ninguém pode dar o que não recebeu. O que não tem.
Os filhos desamados do Brasil não têm amor para dar aos outros, nem à cidade em que vivem, nem ao Estado a que eventualmente sirvam. O afeto, os sentimentos, a ética, o amor, enfim, nada que seja subjetivo e imaterial é um real valor para os filhos desamados do Brasil. No Brasil, para grande parte dos brasileiros, o maior valor, e não raro o único valor, é o dinheiro. E quem tem o dinheiro entre seus principais valores não tem valor algum.
É por isso, pela falta de valores, pela falta de amor, que acontece o que aconteceu dias atrás no Rio. Os policiais que atiraram no carro estacionado ao meio-fio, matando um menino de três anos, não tinham nenhum apreço pela vida dos supostos bandidos que caçavam e que deveriam estar dentro do carro. É por isso, também, que há no país escândalos de corrupção de um bilhão de dólares, como esse de Dantas et caterva - quem toma o dinheiro público, toma o dinheiro "dos outros", e quem se importa com os outros? Porque não existe diferença entre o assassinato cometido na periferia e o bilhão roubado de Brasília - ambos são produtos da ausência de valores. Produto do amor ao dinheiro. Que é o mesmo que desamor

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