sábado, 16 de agosto de 2008

Sem abdicar do ato de educar- Denise Schwochow


Publicado na News letter de Brasil sem Grades/15 de agosto de 2008

Sem abdicar do ato de educar-por: Denise Alves Schwochow
Pais e professores se encontram perdidos. Preocupados com a nova realidade de violência na escola, pedem socorro, sentem-se impotentes. Não é raro culparem o ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente, por esta situação. No entanto, o ECA é uma conquista em defesa dos direitos da criança e do adolescente, assegurando-lhes pleno desenvolvimento físico, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade, sem serem objeto de negligência, discriminação, violência, exploração, crueldade e opressão. Quem pode ser contra isso? O que ocorre então?Talvez por interpretações equivocadas, foi abortada dos regimentos escolares toda e qualquer medida disciplinar ou socioeducativa ou de qualquer outra denominação (não pretendo entrar na polêmica semântica). Ficou um vácuo entre a atuação preventiva na escola e a atuação de conselhos tutelares e Deca.O Estatuto considera criança a pessoa até 12 anos incompletos e adolescente aquela entre 12 e 18 anos. Portanto, um jovem de 13 anos poderá ser encaminhado à autoridade policial competente, mas não pode ser suspenso pela escola até o comparecimento de seus pais ou responsável legal.Tem algo errado nisso. Não queremos que educação se torne caso de polícia.Assisti a palestra em que uma delegada se dizia surpresa com o número de ocorrências policiais referentes a alunos que poderiam ter sido resolvidas na própria escola. De que forma? Espalha-se entre professores e funcionários a cultura de que nada é permitido fazer, que o Ministério Público "vem pra cima", e o aluno diz: "Posso fazer, não dá em nada".Sem querer retroceder ao tempo da educação pelo medo e ameaça, afirmo que não se pode deixar de enfrentar o reconhecimento de que caímos em outro extremo, o da falta de limites.A grande conquista é chegarmos ao equilíbrio com bom senso.Não queremos abdicar do ato de educar. Educar para a cidadania é preparar para conviver em sociedade, é estabelecer um código de conduta. E qualquer projeto educacional depende de uma família presente, de um professor entusiasmado, de uma equipe diretiva e pessoal de apoio engajados. Infelizmente, o número de alunos por sala, a necessidade de trabalhar em várias escolas, os baixos salários, a falta de pessoal de apoio não permitem que o professor conheça profundamente cada aluno.O aluno precisa sentir-se valorizado, o professor é um modelo, para muitos "alunos rebeldes" basta um gesto afetuoso, um elogio para quebrar barreiras. Uma aula bem planejada, com recursos criativos, pode e diminui em muito a indisciplina e a repetência.Mas, em casos em que não se venha tendo sucesso, é preciso estabelecer claramente os limites e para isso o vácuo regimental tem de ser objeto de ampla discussão por todos os envolvidos, sem medo de quebrar paradigmas.

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