sexta-feira, 1 de agosto de 2008

O país está em guerra. Artigo/Corina BRETON



O país está em guerra

Porto Alegre já foi a cidade de melhor qualidade de vida deste triste país, em todos os níveis a serem considerados, como sejam educação, política, infra-estrutura, ecologia, etc. Hoje, de alegre restou somente o nome porque o que se vive é de uma tristeza confrangedora. Sem falar no abandono a que estão relegados os parques, na sujeira que toma conta das ruas, na agressividade com que se dirigem os automóveis, as motos, as carroças, etc, há uma ferida aberta de difícil tratamento.
Não se pode mais sair à rua; vive-se atrás de grades; os criminosos estão soltos; o cidadão está à mercê dos bandidos; latrocínios são eventos banais; vítimas de furtos agradecem a Deus terem suas vidas poupadas. Que realidade perversa! A criminalidade tem atingido a todos, chega muito perto. A população está em pânico.
Todos sabemos que - entre outras - as causas da violência remetem ao descontrole da natalidade, à injustiça social, ao desemprego crescente, etc., etc. Só que a ferida está aberta e o tratamento se faz urgente. Precisamos segurança a toda a pressa, o combate às causas é trabalho para técnicos, políticos e população, a longo prazo.
E agora, um fato:
Sábado, 19 de julho, fim da tarde. Adolescentes entram num ônibus, dirigindo-se ao estádio do Grêmio, a fim de assistirem a uma partida de futebol. Andam em bando, por que? Medo da violência. Jovens, entusiasmados, cantam o hino do clube de sua paixão, acompanhando-se de palmas e brincadeiras. No ônibus havia um PM, com a farda da SWAT. Exigiu que cessassem a algazarra. Note-se que há uma diferença no sentido de alarido juvenil, algazarra e baderna, o que não acontecia. Imediatamente, os meninos pararam de batucar na lateral do veículo, mas continuaram a cantar e a bater palmas. O que fez a “digna autoridade?” Avisou seus colegas e, na parada em frente ao 19º BPM, já estavam uns 15 soldados que retiraram os jovens de dentro do ônibus, de maneira brutal, passando a agredi-los e ameaçá-los com uso de armas. Um deles, imobilizado, com as mãos numa parede, cercado por 3 PMs, que lhe batiam com cassetete, espancando-o nas costas, ao virar-se, levou um soco no nariz, causando sangramento pela boca. Nesse momento, o troglodita e outro policial, assustados, levaram o garoto para ser lavado do sangue que corria. O agressor, então, jurou pela própria mãe que não agredira ninguém.
Muitos desses adolescentes foram vítimas de bandidos e agora, atacados por aqueles que lhes deveriam prestar segurança.
O que está acontecendo? De um lado, os criminosos civis e, de outro, o descontrole, o despreparo, a truculência de representantes de uma corporação, que tem em seus quadros, agentes tão criminosos quanto aqueles que nos ameaçam a cada dia.
Como ficarão esses meninos? Em quem poderão confiar? Será que os donos do poder, que se esforçam tanto para atingi-lo, aboletados em seus gabinetes atapetados, não se mobilizam? Esperam que a sociedade, indignada, amedrontada, descubra a força que tem?
É muito triste assistir à agonia da esperança.” (Simone de Beauvoir)

Corina BRETON
Presidente do Instituto CHEGA!de Violência - ICV

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